Existem diversas fontes de recursos para projetos sociais no Brasil. A melhor estratégia vai depender da realidade e momento do seu projeto e/ou organização.
O que sustenta uma ONG no Brasil?
Primeiramente, é importante entender como se financiam as ONGs e projetos sociais no Brasil. Enquanto o Primeiro Setor – “o Governo” – se financia principalmente através de impostos, o Segundo Setor – as empresas privadas – se financia principalmente através de vendas e produtos, e o Terceiro Setor – as ONGs, Fundações, Coletivos e Projetos Sociais em geral – se financia principalmente através de doações. E está tudo bem!
Fontes x Recursos
Quando falamos de Captação de Recursos para o terceiro setor, não necessariamente estamos falando de dinheiro, ou recursos financeiros. Na verdade, também falamos sobre outros recursos, como materiais, equipamentos e itens do dia a dia da organização, tal qual fraldas, alimentos, ou mesmo voluntários. Neste artigo, vamos falar sobre as fontes de recursos financeiros. Mas afinal, quais são elas?
Quais são as fontes de recursos para projetos sociais?
Embora não exista um consenso sobre sobre quantas e quais são exatamente as fontes que existem no mundo, vamos dividir as fontes de recursos neste artigo em três macro áreas: Recursos Privados, Recursos Públicos e Geração de Renda. A seguir, listamos algumas das principais estratégias para arrecadar recursos para projetos sociais no Brasil:
1. Recursos Privados como fontes de recursos para projetos sociais
As fontes de Recursos Privados são as mais famosas fontes de recursos por se aproximarem dos modelos comerciais de vendas/captação do mercado privado. Consistem, basicamente, em ir atrás de uma empresa ou pessoa (seus “clientes”), apresentando sua causa (seu “produto”) para que elas possam doar (ou “comprar”, seja dando o dinheiro ou passando o cartão, por exemplo). Muitas pessoas acreditam que o “ouro” para as organizações sociais está nas empresas. Embora as empresas possam ser uma boa fonte de recursos, essa afirmação não necessariamente é verdadeira para a realidade da sua organização. Pode ser que existam outras fontes que façam mais sentido priorizar considerando sua realidade. A seguir, as principais fontes de recursos via Recursos Privados:
Assinatura
O modelo de assinatura é uma das fontes mais importantes das organizações sociais. Ela funciona como uma assinatura qualquer, tal qual um serviço de streaming, como a Netflix. A assinatura consiste em buscar doações recorrentes que permitam custear seus gastos mensais, como aluguel, contas de luz, água, etc., para que você possa focar em suas atividades com maior tranquilidade. Muito comum no Brasil, um modelo de “Apadrinhamento Mensal” também pode ser considerado um modelo de assinatura.
Financiamento Coletivo
O modelo de financiamento coletivo, a famosa “vaquinha”, ou “crowdfunding”, é uma forma de arrecadar fundos para projetos ou empreendimentos através de uma plataforma online. Ainda que também existam modelos de financiamento coletivo recorrentes, o cerne desta estratégia consiste em reunir um grande grupo de pessoas, contribuindo com pequenas quantias de dinheiro, para alcançar uma meta financeira bem definida e estabelecida pelo criador do projeto. Em troca, os apoiadores geralmente recebem recompensas exclusivas, como produtos ou serviços, de acordo com o valor da sua contribuição. É ideal para campanhas com uma meta de arrecadação e um período de tempo específicos. E/ou para temas mais urgentes e sensíveis, como uma campanha pontual de arrecadação de cestas básicas, uma cirurgia urgente com um montante específico, etc.
Face-to-Face
Consiste em abordagem direta de pessoas nas ruas, devidamente identificadas com um uniforme e crachá da organização, apresentando a causa e solicitando uma doação. Pode não parecer, mas o face-to-face é uma estratégia cara, uma vez que exige treinamento, materiais e equipamentos específicos para coletar as doações de maneira efetiva e segura.
Telemarketing
O Telemarketing para doações é uma estratégia que envolve contatar pessoas por telefone para solicitar doações para uma determinada causa ou organização sem fins lucrativos. Essas ligações são geralmente feitas por profissionais de telemarketing, treinados ou voluntários, que apresentam a causa e solicitam o potencial doador para fazer uma contribuição financeira.
É importante destacar que, assim como o Face-to-Face, o telemarketing não é uma estratégia barata. Elas exigem equipe, treinamento e equipamentos específicos, e também podem ser vistas como invasivas e desrespeitosas por algumas pessoas, especialmente se a abordagem for insistente ou inadequada. Por isso, é preciso ter bastante cautela para adotá-la.
Grandes Doadores PF
A estratégia de financiamento com grandes doadores, conhecidos internacionalmente como major donors, é uma abordagem de arrecadação de fundos que se concentra em identificar e estabelecer relacionamentos com indivíduos que possam fazer doações significativas para sua organização. O que determina um grande doador varia de organização para organização. Algumas podem considerar doações a partir de R$ 1.000,00 uma grande doação, outras consideram doações, por exemplo, a partir de um milhão de reais.
Doação PJ
As famosas doações com empresas e demais orgãos que possuam CNPJ, diretamente à organização social. Geralmente, em troca desse montante investido, a empresa recebe uma série de contrapartidas, como ativação de marca (logo da empresa nos materiais, menção em eventos, postagem nas redes sociais), métricas sociais, voluntariado corporativo, entre outros. Um exemplo de estratégia de captação de recursos PJ é o famoso “Selo Empresa Amiga”. Dessa forma, a empresa doa um montante que a permite utilizar um selo comprovando seu compromisso com determinada causa.
Doação Internacional
Doações com empresas e demais orgãos internacionais que possuam CNPJ, diretamente à organização social. Por mais surpreendente que possa parecer para algumas pessoas, existem diversos fundos, ONGs, Fundações, agências governamentais, bancos multilaterais, entre outros, que financiam projetos no mundo todo, e, assim sendo, pode ser uma excelente estratégia dentre as fontes de recurso para projetos sociais.
Editais
Esta é uma estratégia que se sobrepõe com algumas das demais estratégias de Recursos Privados, mas que vale a pena ter sua própria denominação, uma vez que exige um plano e ações específicas. Trata-se da busca de recursos e prêmios por meio de editais promovidos por governos, fundações, empresas e outras instituições.
2. Recursos Públicos como fontes para projetos sociais
As fontes de Recursos Públicos são aquelas em que o governo repassa recursos para as organizações sociais. Curiosamente, este recurso não necessariamente precisa ser aplicado diretamente por ele. Por exemplo, por meio das leis de incentivo, o governo permite que empresas e pessoas possam escolher e destinar a verba disponível para essa fonte. A seguir, as principais fontes de recursos para projetos sociais via Recursos Públicos:
Leis de Incentivo
Existem diversas leis de incentivo no país, para diversos setores. No caso de organizações e projetos sociais, existem algumas leis de incentivo sociais, que permitem que pessoas e empresas possam pegar parte do imposto que já iria para o governo, e repassá-lo para projetos aprovados nessas leis. O exemplo mais famoso é o Programa Nacional de Apoio à Cultura – PRONAC, também conhecido com “Lei Rouanet”. A dificuldade em receber recursos via leis de incentivo, porém, está na burocracia de aprovar o projeto nessas leis, seguir seu cronograma específico e prestar contas de cada real gasto. Mas uma vez vencida essas etapas, é uma excelente fonte de recursos, pois acaba sendo bastante atraente para os patrocinadores em geral.
Emendas Parlamentares
As emendas parlamentares são verbas adicionais destinadas a projetos específicos e são incluídas no orçamento do governo por meio de proposições apresentadas por parlamentares. Assim, eles podem destinar recursos a uma ampla gama de projetos, incluindo aqueles ligados à saúde, educação, infraestrutura, meio ambiente, etc.
O processo de obtenção de emendas parlamentares pode ser complexo e competitivo, e requer planejamento e estratégia para ser bem-sucedido. Muitas vezes, inclusive, vai depender de um bom networking ou influência para conquistar o interesse e atenção dos parlamentares.
Termos de Colaboração e fomento
São acordos formais entre entre governos ou entidades públicas e organizações sem fins lucrativos, para realização de projetos ou ações específicas. Esses acordos estabelecem as condições e os compromissos de cada parte envolvida, incluindo objetivos, responsabilidades, prazos, orçamento, entre outros aspectos relevantes.
Enquanto os Termos de Colaboração são utilizados quando as partes envolvidas buscam trabalhar juntas em projetos de interesse comum, sem que haja transferência de recursos financeiros (nesses casos, as partes se comprometem a fornecer recursos humanos, técnicos ou outros tipos de apoio para a realização do projeto), nos Termos de Fomento, os acordos envolvem a transferência de recursos financeiros de uma parte para a outra, com o objetivo de financiar projetos ou ações específicas. Nesses casos, a entidade fomentadora transfere recursos para a organização sem fins lucrativos, que por sua vez se compromete a realizar o projeto ou ação de acordo com as condições estabelecidas no acordo.
Nota Fiscal
Nota Fiscal, como por exemplo a Nota Fiscal Paulista, é um programa gerido por governos, como o do estado de São Paulo, que incentiva a arrecadação de doações para organizações sem fins lucrativos. A iniciativa permite que os consumidores destinem parte do valor de suas notas fiscais para ONGs (Organizações Não Governamentais) cadastradas no programa.
3. Fontes de recursos para projetos sociais por meio de Geração de Renda
As fontes de Geração de Renda são as mais recentes no mundo do terceiro setor. Por muito tempo, muitas pessoas acreditavam que não cabia às ONGs oferecerem serviços e vender produtos, já que não podem ter lucro e o conceito de filantropia e voluntariado dominou o senso comum. Ao contrário do que muitas pessoas ainda pensam, é possível inovar no terceiro setor e ofertar serviços de geração de renda bastante criativos e lucrativos. A seguir, algumas das principais fontes de recursos via Geração de Renda própria:
Produtos
É quando as ONGs vendem produtos a seus apoiadores, como camisetas, canecas, livros, entre outros, e destinam parte ou a totalidade da receita obtida com as vendas para financiar suas atividades.
É possível vender diretamente produtos produzidos pela organização ou beneficiários, produtos terceirizados, ou mesmo conseguir a doação de produtos oriundos de empresas parceiras para revenda. O bazar é um exemplo de estratégia usada tradicionalmente no terceiro setor, embora existam centenas de possibilidades de produtos que poderiam ser aplicados à essa estratégia.
Serviços
Quando as ONGs arrecadam dinheiro por meio da oferta de serviços, seja oferecendo serviços a terceiros, como consultoria, treinamento, pesquisa, entre outros, ou por meio de serviços prestados diretamente aos beneficiários da causa. Por exemplo, uma ONG que luta pelos direitos dos animais pode oferecer treinamento e consultoria para pessoas que desejam adotar animais ou criar um abrigo para animais abandonados. Ou uma ONG que luta contra a pobreza pode oferecer cursos de capacitação profissional para pessoas em situação de vulnerabilidade econômica, ajudando a mudar a realidade dessas pessoas e ao mesmo tempo gerando conscientização sobre a importância da luta contra a pobreza. Esses serviços podem ser cobrados a preços acessíveis, ajudando a arrecadar recursos para a ONG.
Marketing de Causa
Nesta estratégia, as ONGs buscam parcerias com empresas que estejam dispostas a vender produtos personalizados ou específicos para arrecadar doações. Em geral, as empresas ficam responsáveis pela produção e venda dos produtos, e destinam parte ou a totalidade dos lucros para as ONGs. Outras possibilidades são campanhas de doação/arredondamento de troco, ou mesmo o matchfunding, quando as empresas se comprometem, por exemplo, a dobrar o volume de doações recebidas em uma determinada campanha
Eventos
Consiste em arrecadar dinheiro por meio de eventos de arrecadação de fundos, como jantares, corridas de rua, shows, entre outros. Podem ser organizados por voluntários ou por empresas parceiras e os recursos arrecadados podem ser destinados a uma campanha específica ou ao financiamento geral da ONG. Esta também pode atuar, não diretamente com a produção de eventos, mas com a venda de ingressos para eventos, como shows, exposições, festivais, entre outros.
Vale lembrar que é importante que as ONGs escolham eventos que estejam de acordo com a sua missão e valores e que tenham um público alvo disposto a apoiar a causa da ONG.
Fundos Patrimoniais
Os Fundos Patrimoniais contam com uma regulamentação super recente no Brasil, de 2019, e portanto são muito novas para muitas pessoas, que não conheciam essa possibilidade de arrecadação. Tratam-se de fundos alimentados com doações, legados e outros tipos de contribuições financeiras, e o dinheiro é investido em ações, títulos de renda fixa, imóveis ou outros ativos financeiros de longo prazo, cujo rendimento é usado em prol de projetos e organizações sociais. A gestão do fundo é feita por uma equipe de profissionais especializados em investimentos, que buscam maximizar a rentabilidade do patrimônio ao mesmo tempo em que garantem a preservação do capital.
As instituições que podem criar Fundos Patrimoniais incluem universidades, museus, bibliotecas, ONGs e outras organizações sem fins lucrativos. Dessa forma, esses fundos são uma forma eficaz de preservar o patrimônio da instituição e garantir sua continuidade a longo prazo, além de fornecer uma fonte de renda estável para apoiar suas atividades.
Aluguéis
Aluguéis podem ser uma boa fonte de recursos para ONGs que possuem imóveis próprios e podem alugá-los a terceiros. Isso pode incluir escritórios, galpões, espaços comerciais ou imóveis residenciais. O dinheiro arrecadado com os aluguéis, então, pode ser usado para apoiar as atividades da ONG.
Como um contraponto, é importante ter um processo de gestão eficiente para o imóvel, incluindo a cobrança dos aluguéis, a manutenção e reparos do imóvel e a seleção dos inquilinos.
UFA! Mas então, qual a melhor fonte para mim?
Diante de tantas estratégias e possibilidades de fontes de recursos para projetos sociais, como saber quais as melhores fontes para sua organização ou projeto? A resposta é: elas vão depender única e exclusivamente da SUA realidade. Se você ou demais membros da organização (ou conselho consultivo, por exemplo), tiver bons contatos com pessoas físicas com alto poder aquisitivo, pode ser que um Fundo Patrimonial ou Grandes Doadores PF sejam boas oportunidades. Se a organização possui imóveis, os aluguéis são outras possibilidades. Causas urgentes e apelativas podem sugerir campanhas de financiamento coletivo. E assim por diante. O ideal é sempre escolher de 3 a 5 estratégias que façam sentido para você dentro do seu plano de captação de recursos.
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